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Somos analfabetos financeiros. Só 8% dos brasileiros poupam!

Júlia Mendonça

16/05/2019 04h00

Estamos vivendo um momento inédito para a educação financeira no Brasil. Nunca foi tão fácil e acessível aprender sobre dinheiro. São milhares de sites, blogs, livros, vídeos e canais do Youtube (como o meu, Júlia Mendonça) à disposição de quem quer cuidar melhor das finanças.

Esse movimento vem crescendo bastante nos últimos dois anos. Mesmo assim, qual o resultado prático disso? A curto prazo, infelizmente, o impacto ainda é mínimo: apenas 8% dos brasileiros investiram no ano passado.

Esse número já é assustador o bastante, mas, quando olhamos mais a fundo para o estudo "Raio X do investidor brasileiro", divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), descobrimos que somos um país financeiramente analfabeto.

Futuro ao deus-dará

O Brasil sempre foi bastante caridoso nas aposentadorias (sim, algumas classes foram bem mais privilegiadas do que outras), nos aposentamos cedo quando comparados com outros países e confiamos cegamente na Previdência Social.

Juntando tudo isso e acrescentando moeda fraca, custo de vida que aumenta anualmente e salários que continuam inalterados, temos uma tempestade perfeita! Uma população que reza para passar o mês sem entrar mais uma vez no vermelho, que não pensa em poupar e deixa o futuro ao deus-dará.

Carro e casa não são investimentos

Analisando os números do Raio-x detalhadamente, 11% dos brasileiros disseram ter investido em bens duráveis, como carro e imóvel. Sei que muitos vão discordar, mas nenhum deles é investimento. Quando usados para benefício da família, são um passivo, ou seja, geram despesas.

Falta mais gente empreendendo

Apenas 4% da população colocou dinheiro num negócio próprio, e isso é um número baixíssimo, ainda mais quando consideramos todos os benefícios que os pequenos negócios geram em nossa economia. Mais um dado que mostra o quanto estamos atrasados como país.

Educação para melhorar de vida

Entre os entrevistados, somente uma a cada cem pessoas disse ter investido em educação. Isso indica que são poucos os que poupam para conseguir uma melhoria profissional ou se qualificar mais, ou que se organizam e guardam dinheiro para a educação futura dos filhos.

Totalmente no sufoco

Continuando: 75% dos entrevistados não fizeram nenhum tipo de investimento e não guardaram absolutamente nada. Um pequeno deslize financeiro e a pessoa entrará nas dívidas e passará anos trabalhando contra os juros do banco. Realmente, são números assustadores!

Por que não poupamos?

Os motivos para não investir são vários, desde total falta de interesse ou desconhecimento, por parte de 11% dos entrevistados, até a insegurança típica da população que vive em uma eterna montanha-russa com a economia do país. Mais da metade (56%) culpa as condições financeiras pela falta de poupança.

Será que não é desculpa?

Temos que reconhecer que nosso país dá poucas condições para poupar, mas, mesmo assim, grande parte da população vai continuar arranjando sempre alguma desculpa para gastar todo o dinheiro que tem, mesmo ganhando um aumento generoso ou sendo sorteado na mega-sena.

As frases "quem poupa não aproveita a vida" ou "caixão não tem gaveta" resumem muito bem nossa relação com as finanças. Com certeza, falta grana para muitos, mas para outra parcela falta vontade de se educar financeiramente.

Poupança é a campeã

Analisando os investimentos feitos (entre os 8% que investiram), não é difícil de adivinhar que a grande campeã dos depósitos é a poupança, com 88%. O motivo é a possibilidade de resgatar o dinheiro investido a qualquer momento.

Isso demonstra nossa falta de conhecimento em relação aos investimentos. Hoje existem aplicações com essa mesma atratividade e rendendo bem mais. São 6% das pessoas investindo em previdência privada e 5% em títulos privados. Já o Tesouro Direto, que é uma aplicação bastante segura e fácil de entender, ficou com meros 3% dos investimentos.

As ações estão na lanterna, com 2%, segundo o estudo. Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, esse número passa facilmente de 30% na preferência da população.

Cuidado com o gerente

Por último, um dos dados mais chocantes: 70% está investindo pessoalmente nos bancos. Num mundo onde o celular está cada vez mais presente e a informação é bastante acessível, pensar que esse número de pessoas ainda vai até o banco para investir é, no mínimo, bizarro.

Temos que lembrar que grande parte dessas aplicações são oferecidas pelos gerentes, que têm metas a cumprir em relação a venda de produtos bancários. Esse viés faz com que grande parte (já conheci gerentes que fogem a essa regra) não ofereça o melhor produto para a vida do cliente, mas sim aquele que vai ajudar a fechar no verde os objetivos do banco. É uma relação perigosa, e muitos sequer param para analisar onde estão se enfiando.

Reforma da Previdência deve piorar a situação

Com a reforma da previdência muita gente vai ficar descoberta de recursos e deve passar a aposentadoria muito mais pobre. Isso é inevitável.

Se continuarmos com os hábitos de investimentos que a pesquisa expôs, prevejo uma grande crise no futuro, quando os brasileiros que hoje têm por volta dos 30-40 anos chegarem à aposentadoria sem um centavo guardado. Veremos muitos aposentados sendo obrigados a trabalhar para complementarem o orçamento de casa e conseguirem apenas pagar as contas do mês.

E aí, vai fazer o que?

O rumo natural da história parece tipicamente brasileiro: vamos deixar tudo para a última hora. Não tem mais como ser assim, não dá. Luto diariamente para trazer mais educação financeira junto ao UOL aqui no Descomplique. Sei que é um trabalho de formiguinha, mudando a cabeça de uma pessoa por vez, quebrando as crenças que impedem as pessoas de prosperar ou deixando-as um passo mais próximas da prosperidade.

Se você não quer mais fazer parte dessa estatística, leia sempre os conteúdos que estão aqui no blog. Estamos comprometidos a mudar essa realidade e fazer com que cada vez mais pessoas estejam conscientes do que o futuro reserva. Agora, fica a reflexão para você: falta dinheiro ou falta vontade de cuidar das finanças?

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UOL Notícias

Sobre a autora

Júlia Mendonça é formada em comércio exterior pela Universidade Positivo. Atuou como planejadora financeira entre 2015 e 2018. Especialista em orientação e planejamento financeiro pessoal, é coach e consultora de finanças, pós-graduada em investimentos, finanças e banking. É influenciadora digital no nicho de finanças e investimentos em um dos maiores canais do assunto na área do Brasil.

Sobre o Blog

Dinheiro, finanças e investimentos de um jeito fácil e muito prático. O Descomplique vai fazer com que sobre grana no teu mês (e não o contrário!). Com linguagem simples e sem esconder as armadilhas do dia a dia que te deixam no vermelho, aqui você vai aprender a cuidar melhor do teu dinheiro e fazer com que ele trabalhe para você.