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Com juros reduzidos de novo, vale a pena ainda manter dinheiro na poupança?

Júlia Mendonça

23/03/2020 04h00

Nesta semana chegamos a um patamar na renda fixa jamais alcançado anteriormente. A taxa de juros básica do Brasil, a Selic, chegou a 3,75% ao ano. Com isso, vieram as dúvidas e preocupações em relação aos investimentos.

O que mais tem tirado o sono dos investidores é a rentabilidade real, que ficará negativa. O que fazer com os investimentos neste momento? Será que a poupança é uma boa escolha para deixarmos nosso dinheiro rendendo?

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Valor do dinheiro

A taxa Selic é como se fosse o preço do dinheiro, ou seja, o quanto custa pegar dinheiro emprestado. Com essa taxa mais baixa, os empréstimos ficam mais baratos e mais empresas conseguem fazer empréstimos e financiamentos, o que gera maior demanda da produção industrial e estimula o crescimento do país. Até agora, parece que só existem coisas boas nessa medida, porém é preciso entender que a Selic afeta diretamente seus investimentos.

O corte da Selic não era planejado pelo Banco Central. É uma medida extrema para conter uma possível recessão, pois com a crise do coronavírus no mundo o movimento dos comércios diminuirá, o desemprego aumentará e já é certo que o crescimento do país ficará bem abaixo do que era esperado para este ano.

A inflação acumulada (IPCA acumulado) nos últimos 12 meses, segundo o IBGE, foi de 4,01% (fevereiro de 2020). Com a Selic rendendo 3,75% ao ano, é fácil enxergar que teremos um número de –0,25% de rendimento, chegando pela primeira vez aos juros negativos do nosso país.

As consequências dessa medida vão impactar diretamente nos investimentos, principalmente os de renda fixa, como a poupança. Com a instabilidade da economia e queda da bolsa, é natural que mais pessoas busquem essa aplicação como forma de proteger as finanças. Infelizmente, essa não é a melhor opção para o momento.

Será que é bom?

Para entender qual é o problema da poupança neste momento, é preciso entender a regra de rentabilidade dessa aplicação. Quando a taxa Selic tem o valor acima de 8,5% ao ano, a poupança renderá 0,5% ao mês + a taxa referencial (T.R.). Abaixo desse valor, a poupança renderá 70% do valor da Selic, mais a T.R., independentemente do valor a que ela chegue.

No momento, com a taxa Selic valendo 3,75%, a poupança passa a render 2,62% ao ano (70% da taxa Selic), 1,4% menos do que a inflação anual. Isso significa que seu dinheiro perde o poder de compra para a inflação. Esta corrói seu valor e faz com que você não consiga mais comprar as mesmas coisas que compraria com o mesmo valor, então precisará de mais dinheiro para comprar um mesmo item.

Se você investir R$ 10 mil na poupança hoje, terá R$ 10.262 em um ano (utilizando a taxa atual, essa taxa pode mudar nos próximos meses). Utilizando como base a inflação nos últimos 12 meses (4,01%), para que você mantenha seu poder de compra, é necessário que seu rendimento seja de, no mínimo, R$ 401 no exemplo anterior.

A perda

Isso significa que a cada R$ 10 mil investidos você "perde" R$ 139 ao ano para a inflação (utilizando como base os números da Selic e inflação atuais, essas taxas podem variar durante o ano). Existem diversos outros investimentos de renda fixa que são tão seguros ou mais que a poupança e que rendem mais.

O tesouro Selic é um deles. Hoje o rendimento dessa aplicação no primeiro ano é de 3,09% (descontando imposto de renda sobre o lucro de 17,50%). Isso significa que o tesouro Selic também está perdendo da inflação neste momento, mas rende mais que a poupança.

Com a taxa Selic baixa, é inevitável que os investimentos de renda fixa ligados à taxa de juros tenham sua rentabilidade diminuída e até negativa, como vimos nos exemplos anteriores. Porém, é preciso saber que ainda vale a pena colocar seu dinheiro neles se você tem objetivos de curto prazo e necessita da segurança dessas aplicações.

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Sobre a autora

Júlia Mendonça é formada em comércio exterior pela Universidade Positivo. Atuou como planejadora financeira entre 2015 e 2018. Especialista em orientação e planejamento financeiro pessoal, é coach e consultora de finanças, pós-graduada em investimentos, finanças e banking. É influenciadora digital no nicho de finanças e investimentos em um dos maiores canais do assunto na área do Brasil.

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